<Casos pitorescos da guerra - Batalhão de Caçadores 4511 - Angola 1972/74>

 

Casos pitorescos da guerra

 

Colheita de ananás, com escada

Com que vais fazer a guerra….

Fugir nu à frente de um javali

Esse dente não… era o outro

Vens ou ficas….

Tatu no WC

 

 

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Vens ou ficas….

Certo dia, estava eu de serviço, quando o comandante foi chamado ao quartel, ás transmissões, pois um comandante de uma companhia, estava a chamá-lo para um assunto urgente. Saiu da messe de oficiais, entrou com 2º comandante no seu jipe e saiu a alta velocidade, para o quartel. Ao chegar à entrada, com o sentinela a prestar armas e comigo a fazer continência, virou à direita em derrapagem, projectando o 2º comandante, para fora da viatura caindo no chão. Parou mais à frente e gritou: - Vens ou ficas...

Ele levantou o braço, e furioso mandou-o seguir.

Dadas as circunstancias, preferiu fazer o resto do percurso a pé.

 

 

 

Com que vais fazer a guerra….

Depois de ter sido detectado um grupo de operacional da UPA, na nossa zona, foi montada uma operação de envergadura, recorrendo a imensas tropas e meios aéreos, não habituais. Lembro-me de Sanza ser sobrevoado pelos famosos T6 e outros de maiores dimensões.

Para acompanhar mais de perto a operação, o 2º comandante foi de helicóptero para uma companhia, mais perto da acção. Para se despedir, encostou a sua G3 ao hélio, abraçou o comandante e entrou no aparelho. Fechou a porta e levantaram voo. Esquecendo-se da arma ao entrar, ela caiu ao chão.

Enquanto se elevavam, o 2º comandante com a mão dizia adeus, o comandante de baixo gritava: - “com que vais fazer a guerra...”, ao que ele, julgando que lhe estava a dar ânimo, continuava acenando.

 

 

 

Colheita de ananás, com escada

Como praxe, era usual pregarem-se partidas, a camaradas chegados de novo.

A uma dada altura, chegou da Metrópole, um furriel, em substituição individual, para a CCS. Aproveitámos o seu desconhecimento da zona, para lhe preparar uma brincadeira.

Ao jantar, foi servido abacaxi de sobremesa, tendo ele referido ser uma fruta de que gostava imenso.

Em conversa, chegou-se à conclusão que ele não conhecia  a planta, donde provinha este fruto.

Junto à messe de sargentos, existia uma machamba, pertença do exército, em que se cultivavam abacaxis.

Engendramos logo uma forma de o enganar. Convidámo-lo a colher um deles aí.

Já era noite. Dissemos-lhe que teria de levar um escadote para subir à árvore, para o cortar. Assim de escadote às costas, passando no meio das plantas de abacaxi, sem perceber o que era, dirigiu-se acompanhado por mim e outros camaradas, até uma mangueira, onde colocou a escada.

Subiu e começou a apalpar as mangas, pensando que eram abacaxis, dizendo, - estão ainda pequenos, devem estar verdes.

Quando desceu lá o confrontamos com a realidade, ou seja andou aos pontapés aos abacaxis, de escada às costas e não reparou neles.

 

 

 

Caça aos Gambozinos

A paródia não ficou por aí. Era costume à noite, irmos à caça de coelhos, para a pista de aviação em terra batida, para fazermos umas patuscadas.

Deslocávamo-nos de jipe, munidos de um projector.

Ao olharem para luz, estes animais ficavam encandeados e era fácil matá-los.

Ora num desses dias, o mesmo camarada estava connosco a deliciar-se com um desses manjares, quando lhe dissemos que havia um animal do tamanho do coelho, mas muito mais saboroso,  que era difícil de apanhar.

Logo se prontificou a colaborar na caçada.

No dia marcado, também à noite, deslocamo-nos para uma picada, junto ao refeitório, bastante estreita e com capim alto.

Demos-lhe  um saco e pedimos-lhe que ficasse ali parado, com ele aberto, a tapar a passagem e que fosse assobiando, para atrair o dito animal.  Nós iríamos fazer um cerco, empurrando-o para aquele lugar. 

Ali esteve durante um tempo razoável, até que nós, achando que já era tempo a mais, o fomos buscar, informando-o que não encontrámos nada e que voltaríamos outro dia.

Pois ele lá foi comentado o que se passou, dizendo que se fartou de assobiar e que, a uma dada altura, lhe pareceu ver os animais quase a entrar no trilho.

Andou uns dias enganado até  lhe contarmos, que aquilo não passava de uma brincadeira.

 

 

Esse dente não… era o outro

Devido à grande degradação dentária dos militares, provocada pelas condições precárias da alimentação,  ia periodicamente a Sanza Pombo e a outras companhias, um dentista militar.

Numa dessas ocasiões, o nosso comandante de companhia e eu fomos à consulta.

Eu estava com dores num dente, assim como ele. Entrou à minha frente e demorou bastante. Quando saiu, virou-se para mim furiosos dizendo-me “tirou-me primeiro um dente são e só depois me tirou o doente”.

Escusado será dizer, que o acompanhei para fora da sala, ouvindo os seus desabafos e impropérios contra o médico e já nem quis a minha consulta.

Passei pela enfermaria mais tarde, onde me foi dada uma pomada analgésica, com um cheiro intenso,  para esfregar na gengiva e adiei a resolução do problema, não fosse o diabo tecê-las.

 

 

Tatu no WC

Certa vez, estava no quarto de banho do refeitório dos sargentos, quando comecei a ouvir barulho de papéis que de principio pensei vir de fora.

Continuei a ler um jornal editado no batalhão, mas de repente o barulho intensificou-se ao meu lado direito.

Concentrei aí o meu olhar, onde ficava o balde do papel higiénico e comecei então a ver uma coisa redonda, que não identifiquei. Bati-lhe com o jornal e saltou daí um animal com focinho enorme que me assustou, tendo fugido com as calças na mão. Fora e à espreita lá estavam os malandros da partida, a rir-se.

Pude ver, passado o susto, que era um tatu.

 

 

 

Fugir nu à frente de um javali

Quando estive destacado na zona do Cuango, as condições em geral eram más, pelo que tentávamos sempre arranjar formas de melhorar, o nosso nível de satisfação.

Para tomarmos banho utilizávamos uns chuveiros em lona, que eram enchidos de água. Ora perto do aquartelamento, existia uma nascente de água, num morro, que foi canalizada, caindo através de um tubo plástico largo, numa clareira aberta na mata, junto à picada.

Era tão agradável a água, tanto para beber como para tomar banho, que quase diariamente nos deslocávamos lá a tomar um banho fresco.

Num desses dias, estava eu nu, esfregando-me debaixo naquele caudal de água, quando outro camarada que estava ao meu lado, começou a correr a fugir do lugar, berrando para mim. Ora como a água a cair fazia barulho não percebi o que ele dizia. De qualquer forma fiquei alerta e perguntei-lhe o que era. Ele já montado sobre a viatura unimog, ria-se e apontava para o mato.

Fixei melhor esse lugar e apercebi-me então, que estava lá bufando um javali. Saí daí disparado, correndo como estava, atirando-me para cima da viatura.  

 

 

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