Pantorra
afirma que colheita é efectuada de forma muito intensiva
e sem qualquer tipo de
regulamentação
Nordeste
Rural
A colheita de
cogumelos silvestres de forma muito intensiva e descontrolada está a preocupar a
Associação Micológica “A Pantorra”.
Segundo esta organização, a forte procura de cogumelos
representa riqueza para a “meia dúzia de colectores e intermediários que vêm em
carrinhas e os recolhem nas aldeias, normalmente pagando muito pouco face ao
valor do produto no mercado”, denuncia o presidente da Pantorra, Francisco
Martins.
Ao contrário do que acontecia antigamente, em que os
cogumelos estavam associados a populações rurais e à pequena economia doméstica,
hoje existem “apanhadores” que vêm de fora, empresas de comércios ou
transformação. A produção deixou, assim, de ser um bem natural de determinada
região, para passar a ser alvo de cobiça de pessoas que chegam de diversos
locais em busca de cogumelos que são vendidos a “peso de ouro”.
A situação em Trás-os-Montes é motivo de preocupação, devido
à apanha descontrolada, que poderá colocar em risco o futuro das espécies mais
procuradas e, consequentemente, afectar a débil economia ligada a este sector.
“Há mais gente a colher cogumelos e apanham logo que aparecem, sem os deixarem
desenvolver. Não há regras de colecta e apanha-se à toa”, acrescenta Guilhermina
Marques, docente na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
Colheita de cogumelos em Espanha está regulamentada e
organizada
Ao contrário do que se passa em Portugal, nalgumas regiões
de Espanha a colheita e comercialização de cogumelos está regulamentada de modo
a organizar e normalizar a recolha.
Neste sentido, a Associação para o Desenvolvimento de
Aliste, Tábara e Alba, com o apoio do Ministério da Agricultura e da Junta de
Castela e Leão e enquadramento científico do Instituto de Restauração e Meio
Ambiente, criou um guia com conselhos e regras quanto à recolecção e consumo de
cogumelos.
Deste modo, os espanhóis conseguem valorizar o seu produto,
a partir desta organização e aproveitamento, bem como através da descoordenação
portuguesa neste sector, que lhes permite adquirir cogumelos a preços
inferiores, levando à sua subvalorização.
Para que esta situação deixe de se verificar, é necessário
transformar os cogumelos silvestres num produto tradicional e num recurso com
vista ao desenvolvimento local. Assim, é urgente conhecer o produto e a melhor
forma de o utilizar, através de estudos, criar regras para um uso sustentável,
bem como alertar para as boas práticas de comercialização e transformação. Estes
são alguns dos assuntos que fazem parte de investigações levadas a cabo pela
UTAD.
Por:
Sandra Canteiro
Candidatura a "Capital do
Cogumelo
Francisco Pinto / Jornal de Noticias / 30/10/2006
A associação micológica "A Pantorra" vai propor à secretaria de Estado
do Turismo a "elevação" de Mogadouro a "Capital do Cogumelo". Esta pretensão foi
dada a conhecer a margem do 8.º Encontro Micológico Trasmontano, que terminou
ontem e que juntou cerca de uma centenas de apreciadores e investigadores do
mundo da micologia, oriundos de todo o país e da vizinha Espanha.
Segundo Francisco Xavier Martins, micólogo e
presidente da associação "A Pantorra", "são vários as razões que conduzem a esta
pretensão. Mogadouro é a primeiro concelho do país a ter um monumento ao
cogumelo, é nesta vila que se têm inventariado e dado a conhecer algumas
espécies destes fungos, é em Mogadouro que se têm realizado mais actividades
científicas no campo da micologia".
Apontadas estas razões, há outros motivos que colocam
Mogadouro na rota dos apreciadores dos cogumelos na região há vários
restaurantes que utilizam varias espécies comestíveis destes fungos como
complemento gastronómico. Pratos simples, mas que são bastantes solicitados.
"Os cogumelos, pelo seu sabor e aroma, são um
excelente acompanhamento para pratos de carne, como a Posta à Mirandesa", realça
o chefe Eliseu Amaro, do restaurante a Lareira.
"A Pantorra" defende, também, a criação de uma carta
para os "apanhadores de cogumelos".
O Outono é
a época dos cogumelos.
O Outono é a época dos cogumelos. Nas regiões do interior, chegou
a altura de ir para o monte à procura dos fungos que fazem as delícias dos
amantes da boa gastronomia. Em
Mogadouro, os cogumelos voltam a ser
pretexto para mais um encontro micológico, agora que o negócio, apesar de
desregrado, começa a ganhar alguma expressão em Portugal. Alguns exageram.
"Para os optimistas, são filhos de Deus e dos santos; para os
pessimistas são a sementeira do diabo e o veneno da serpente". Eliseu Amaro,
proprietário do restaurante "A Lareira", em Mogadouro, é mais do que um mestre
da cozinha, é um poeta da gastronomia, da boa gastronomia, e nessa, sempre que
pode, faz uso dos perfumes e dos sabores das trufas, dos boletus, dos lactários,
dos cantarelos, das morquelas ou dos lepiotas. Enfim, dos cogumelos.
Amaro faz parte dos optimistas, daqueles para quem a chegada do Outono
significa mais do que combinações exuberantes de esmeralda com tons de ouro e
sangue na paisagem. É o tempo de pegar na cesta de vime e de ir para o bosque ou
o monte recolher as tais dádivas divinas, que brotam da terra húmida e que
tornam as refeições mais ricas e suculentas.
Neste fim-de-semana, Eliseu Amaro não vai sair para o campo, mas irá
andar à volta dos cogumelos. Pelo segundo ano consecutivo, a Associação
Micológica "A Pantorra" e o Parque Natural do Douro Internacional organizam em
Mogadouro um encontro micológico e o cozinheiro tem a seu cargo a dupla tarefa
de falar sobre a forma de enriquecer a cozinha tradicional com os cogumelos e de
preparar um jantar com trufas, "buletus edulis" (também conhecido por
míscaro ou tortulho) e "Lactarius deliciosus" (Sanchas ou sinchos).
O dia de ontem foi passado no campo: divididos em grupos, os
participantes do encontro correram montes e bosques à cata de cogumelos,
comestíveis e não comestíveis, e os inúmeros exemplares recolhidos foram depois
identificados e expostos. O dia de hoje vai ser todo preenchido com palestras,
que abordarão temas como o desenvolvimento micológico laboratorial e florestal,
a biodiversidade fúngica, conservação e aproveitamento, as intoxicações por
cogumelos e os cogumelos como recurso económico.
Xavier Martins, presidente de "A Pantorra" e dinamizador dos encontros,
chama aos cogumelos "a galinha dos ovos de ouro". Mas "os cogumelos são um
recurso natural acrescido, sustentável e inesgotável se o desenvolvimento
micológico em áreas de crescente florestação e a recolha nos actuais bosques
forem feitos de forma racional", avisa.
Marisa Castro, professora de Biologia Vegetal da Faculdade de Ciências
da
Universidade de Vigo, não tem dúvidas sobre
as potencialidades que a micologia possui em regiões como
Trás-os-Montes, apontando o "buletus
edulis" e o "lactarius deliciosus" como duas espécies de cogumelos
com grandes possibilidades de gerar recursos alternativos à economia agrícola.
Acresce que, nas zonas com significado florestal, como é o caso igualmente de
Trás-os-Montes, a aposta na micologia pode revelar-se duplamente acertada.
Na verdade, há alguns cogumelos que vivem associados a certas árvores.
Os cogumelos são constituídos por uma delicada teia (micélio) que penetra nas
raízes das árvores, servindo-se delas para obter substâncias essenciais à sua
sobrevivência. Por sua vez, as raízes das árvores ficam mais fortes com a
presença do micélio e aumentam a sua capacidade de absorção de água e de
nutrientes. Esta simbiose perfeita abre, pois, enormes possibilidades
económicas, já que, inoculando fungos com interesse comercial a certas árvores,
é possível aumentar o rendimento florestal e obter ganhos com a produção de
cogumelos.
Na Galiza, que tem grandes afinidades florestais com a região
transmontana, a comercialização de cogumelos atinge já cifras astronómicas. Em
cada Outono, segundo dados de Marisa Castro, são realizados cerca de 3,5 milhões
de contos na venda de alguns cogumelos, em especial boletos. Os compradores são,
sobretudo, empresários de Itália e França, países com larga tradição no consumo
industrial de cogumelos.
Em Portugal, o negócio da apanha de cogumelos está muito longe de
atingir esses valores, mas nas zonas transfronteiriças já começa a ter alguma
expressão, beneficiando da crescente procura protagonizada por intermediários
espanhóis. Porém, os erros que foram cometidos na Galiza, onde a apanha
desenfreada colocou em risco algumas espécies, começam também a repetir-se por
cá.
A apanha é feita sem regras (no
Instituto de Conservação da Natureza há um
grupo de trabalho responsável por criar um quadro normativo para a apanha de
cogumelos, mas os anos vão passando e a situação continua inalterada) e a ânsia
do lucro fácil leva muita gente a revirar o solo de bosques e montes,
hipotecando assim a reprodução futura de algumas espécies.
Espécies comestíveis mais comuns em Portugal
·
"Lactarius deliciosus"
- Encontram-se em pinhais e é uma das espécies comestíveis mais apreciadas. São
bons fritos ou guisados. Aparecem no Outono.
·
"Morchella esculenta"
- Surge entre Março e Abril, em solos húmidos e ricos em húmus. É apreciada com
ovos mexidos.
·
"Buletus edulis"
- Espécie de Outono que surge em bosques e pinhais. Salteados em azeite e alho
são uma especialidade.
· "Cantharellus cibarius"
- Comuns em bosques de coníferas, são bons de várias formas e há até quem os
aprecie como sobremesa. Em algumas regiões são
conhecidos por "rapazinhos".
· "Macrolepiota procera"
- Conhecidos vulgarmente por "frades" ou "roques", surgem nos lugares mais
diversos. Assados só com sal, são deliciosos.
· "Tricholoma equestre"
- Há quem lhe chama "amarelas" (a sua cor natural) ou cogumelo-dos-cavaleiros.
São bons guisados.
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